quarta-feira, 13 de março de 2013

MALVINAS: DA SOBERANIA BRITÂNICA À TEIMOSIA ARGENTINA

As recentes declarações do governo argentino sobre a questão das Ilhas Malvinas têm gerado um desconforto nas relações do país com o Reino Unido. Em entrevista no mês passado ao jornal britânico The Guardian, o chanceler argentino Héctor Timerman declarou que as Malvinas voltarão a ser argentinas em duas décadas.

O governo do Reino Unido através do primeiro-ministro James Cameron, já havia reforçado no início do ano a disposição de lutar, se necessário, para conservar a soberania do país sobre as ilhas, chamadas de Falklands pelos britânicos.

Mapa da localização das Ilhas Malvinas em relação ao continente 
Mapa das Ilhas Malvinas

As ilhas, localizadas no sul do continente americano foram incorporadas ao domínio colonial britânico em 1883 e reivindicadas militarmente pelo governo argentino do General Leopoldo Galtieri em 1982, dando início a uma curta e sangrenta batalha com saldo oficial de 649 mortos do lado argentino e 258 do lado britânico.

A derrota dos argentinos e a perda da soberania sobre as ilhas acelerou o declínio da ditadura militar no país e garantiu ao Reino Unido o controle total do arquipélago, que é estrategicamente importante para as duas nações.

Para britânicos e argentinos, além de apresentar uma questão de orgulho e credibilidade nacional, o controle sobre as ilhas garante uma posição estratégica no trafego marítimo do Atlântico Sul e o mais importante, a exploração de petróleo.

Placa em uma rodovia da Patagônia mostrando o orgulho argentino
Um referendo realizado na última semana pode colocar um ponto final nas discussões sobre a soberania das Falklands. Os 1649 kelpers, habitantes civis de origem escocesa nativos das ilhas, votaram "SIM", pela manutenção do status quo e querem continuar como parte da coroa britânica. Espera-se que o resultado expressivo de 99,8% ajude-os a obter apoio internacional para por fim a essa questão.

Acredito que não há chances no campo diplomático (muito menos militar) para que os argentinos tentem reaver as ilhas, bem como ocorreu em 1982. Fico com a resposta irônica dos kelpers ao chanceler argentino Héctor Timerman, sobre o fato de que as Malvinas voltariam a ser argentinas em vinte anos: "a Argentina tem mais chance de ter sua bandeira na Lua em 20 anos do que nas Malvinas."

Uma boa dica de leitura é o livro Conflito das Malvinas, pela editora Bibliex e escrito pelo General Paulo de Queiroz Duarte. O livro relata todo o curso dessa guerra entre Argentina e Reino Unido, que apesar de curta, causou muitas mortes e marcou a história dos dois países.

Livro relata o conflito dos ponto de vista histórico e militar

quarta-feira, 6 de março de 2013

O FUTURO DO CHAVISMO E O LEGADO DE HUGO CHÁVEZ


Hugo Cháves durante desfile de posse (Foto: Divulgação)
Ninguém pode negar que Hugo Chávez, morto na última terça-feira 5, marcou profundamente a história da política latino-americana nos últimos 14 anos em que esteve no poder na presidência da Venezuela.
 
Desde que assumiu o poder em 1999, Chávez iniciou profundas mudanças nas políticas interna e externa da Venezuela. Mudanças estas, apoiadas no "socialismo bolivariano", o coração de sua política assistencialista, cujo objetivo era combater as doenças, o analfabetismo, a desnutrição, a pobreza e outros problemas sociais. Nascia assim, o "chavismo".
 
Através dessas políticas sociais, Chávez conseguiu alguns avanços na economia, baseada na extração e refino de petróleo, distribuição de renda, e na educação, chegando a ser declarada pela UNESCO livre do analfabetismo, por ter uma taxa de analfabetismo inferior a 4%.
 
Entre as principais mudanças na economia, o governo de Chávez garantiu através das leis venezuelanas relativas à exploração petrolífera e de royalties, que a maior parte das receitas fossem aplicadas em programas sociais e de distribuição de renda. O resultado foi que em torno de 15 milhões de venezuelanos pertencentes a classe "E" tiveram suas rendas aumentadas em 53%.
 
Entretanto, as tentativas de golpes para se perpetuar no poder, o desprezo pelas instituições democráticas e a aproximação com governos considerados hostis, como o Irã de Mahmoud Ahmadinejad, levaram a Venezuela a ser vista com maus olhos pelos organismos internacionais e por vários países, como os Estados Unidos, que chegaram a classificar o país, juntamente com Irã e Coréia do Norte como pertencentes ao "eixo do mal".
 
Polêmicas à parte, uma coisa é certa: o legado que Hugo Chávez deixa em seu país e em muitos de seus vizinhos, passa pelo poder e pela ascensão popular, onde o chavismo se tornou uma ideologia para grande parte da população.
 
O chavismo vai continuar. Diferente, é claro, mas vai. Nenhum governo pós-Chávez poderá ignorar o poder que a população mais pobre ganhou durante seu governo, nem conseguirá mudar a estrutura criada para favorecer essas pessoas, que históricamente foram vítimas de governos elitistas no país.
 
Sua figura de liderança, como de um "grande pai" que cuida dos "filhos oprimidos e esquecidos" da América Latina e que serviu de inspiração para governos populares em países vizinhos como Bolívia, Equador e mesmo o Brasil, vai perdurar por muito tempo.


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A BÉLGICA E AS QUESTÕES SEPARATISTAS

Situado na Europa Ocidental, o Reino da Bélgica possui uma população de aproximadamente 10 milhões de habitantes, é um dos menores países do continente com cerca de 30 mil km² e divide-se em duas grandes regiões principais: Flandres e Valônia.
 
Mapa representativo das duas principais regiões belgas: Flandres e Valônia

A região de Flandres é responsável pela maior parte da riqueza do país, em parte pelo seu passado mercantil, que a tornou um dos principais centros de comércio da Europa. Flandres abriga também importantes cidades industriais e de serviços, como Antwerpen, Gent e Bruxelas quem também é a capital administrativa da União Européia.
 
Bandeira de Flandres
 
Já a Valônia, ao sul do país, já teve sua importância econômica no passado, graças às suas reservas de carvão mineral, principalmente nos arredores de Charleroi. Nessa região se localiza a floresta de Ardennes, uma área pouco populosa e conhecida principalmente pelas batalhas ali ocorridas entre tropas alemãs e aliadas durante a Segunda Guerra Mundial.
 
Bandeira da Valônia
 
A diminuição na utilização do carvão como matriz energética acarretou na diminuição do desenvolvimento da Valônia, gerando o fechamento de muitas minas e por consequência aumentando drasticamente os índices de desemprego na região.
 
Após a Segunda Guerra Mundial, o país mudou seu eixo econômico para o setor de serviços e ampliou seus acordos político-comerciais com os países vizinhos, como Holanda, Alemanha, Luxemburgo e França, intensificando o comércio e fazendo de Flandres uma região de destaque na economia nacional.
 
Todo esse cenário associado às diferenças culturais e linguísticas, uma vez que em Flandres o idioma falado é o flamengo enquanto na Valônia a população é francófona, acirraram as rivalidades entre essas duas regiões.
 
Além disso, durante a década de 70, houve um processo de federalização no país, levando à criação de várias instituições autônomas em ambas as regiões, enquanto os assuntos estratégicos do país continuavam por conta do governo central, baseado em Bruxelas.
 
A crise mais recente no país ocorreu em meados de 2007, quando representações políticas de Flandres se opuseram a representantes políticos da Valônia sobre uma possível separação entre as duas regiões.
 
Flandres defende uma cisão entre as duas partes do país, enquanto os valões são contra, uma vez que uma possível separação acarretaria no fim do repasse de 10 bilhões de euros anuais por Bruxelas, agravando ainda mais o declínio econômico e o desemprego na região.
 
Até hoje as discussões continuam e os políticos belgas ainda terão muito trabalho para decidirem qual a melhor forma de solucionar os problemas internos da nação, que passam não somente pelas questões econômicas, linguísticas e culturais, mas que também envolvem o futuro da sede da maior aliança econômica mundial.